HISTÓRIAS DE VIVÊNCIA DE ALGUNS PORTADORES.

Relatos de portadores.

O músico Joabson do Nascimento, de 23 anos, tem glaucoma congênita em ambos os olhos desde a infância. Relata que os buracos nas ruas e calçadas são os seus principais obstáculos ao trafegar nas ruas do Recife. “Falta acessibilidade para pessoas com necessidades especiais. Como já nasci sem enxergar e sou bastante autônomo, tenho noção dos locais onde tenho que desviar, mas muitos precisam da ajuda de outras pessoas para andar e atravessar as ruas.”

O locutor e pedagogo Domingos Sávio, 49, que tem retinose pigmentar e perdeu a visão total dos dois olhos aos 12 anos também sente muitas dificuldades em andar pela cidade. Ele aponta a falta de empatia da população e a de estrutura da cidade como algumas das principais barreiras na locomoção. “A falta de organização dos comércios, por exemplo, afeta no trafego seguro. Falta identificação em braile e iniciativas inclusivas”, disse. Domingos está há um ano a frente do programa Resgatando a Cidadania, da Rádio Folha FM 96,7, que busca justamente provocar o poder público, instituições e sociedade em geral sobre a inclusão. “Levamos pessoas com necessidades especiais e gestores públicos para debaterem a acessibilidade para todos”

O estudante Allison Lucas Soares, de 16 anos, é um deles. Ele perdeu a visão total do olho direito há dois anos e enxerga atualmente com dificuldades pelo olho esquerdo devido a uma distrofia de retina e miopia desenvolvida desde a infância. No dia a dia, ele relatou que sente muitas dificuldades ao trafegar nas ruas mesmo diante da autonomia que possui ao se descolar sozinho pela cidade. Allison contou que buscou o Instituto em 2016, após perder a visão, para desenvolver melhor os sentidos e aprender a se deslocar com a bengala. No local, ele frequenta também aulas de braile, música e goalball, que é uma modalidade do futsal adaptado para pessoas com algum grau de perda visual. “Esse lugar é a minha segunda casa”, disse. Atualmente, o espaço atende 180 pessoas “preparando-as para a vida”, destaca a professora de práticas educativas, Vitória Marinho Damasceno. Em comemoração dos 110 anos, o arcebispo de Olinda e Recife dom Fernando Saborido, realizará no próximo dia 20, às 11h30, uma missa no auditório do Instituto.

Julio Cesar, músico, massoterapeuta e cego, diz que suas maiores dificuldades são, a falta de respeito das pessoas que estão transitando na mesma calçada mas não dão preferência, a falta de repartições públicas e/ou privadas que são os corrimões, pisos-antiderrapantes, pisos-tátios, rampas e outras, a falta de semáforos sonoros, a "exclusão" de materiais didáticos em braile, lupas, salas de recursos e profissionais para o atendimento único e específico para os cegos, os transportes públicos também deixam a desejar, a falta de tecnologia que ajude com os horários e linhas de cada ônibus, o lazer também é uma dificuldade, cinemas e teatros não são equipados com áudio descrição e eles (cegos) dependem de um guia para entender os filmes e peças.

Marcos Lima, cronista, relatou em uma crônica autoral suas dificuldades sobre a cegueira. Olherões (não usados tão frequentemente quantos antes) deixam marcas expressivas em suas orelhas, por ele ser "desproporcional", largo na parte superior e fino na parte inferior, com a bengala os cegos não conseguem encontrar antes de serem atingidos, buracos nas calçadas, mesas de restaurantes em calçadas e fechando ruas, hidrantes, todos esses somam negativamente para que os cegos sobram marcas físicas frequentemente.

Pollyana Sá, de 29 anos, engenheira e fotografa, relatou em uma I entrevista que mesmo formada ela possui uma capacidade intelectual muito e muitas vagas saem com funções inferiores. Isso é bem comum de se acontecer, muitas empresas acham que cumpriram sua parte como cidadão e submisso a lei do país, quando contratam um portador de deficiência na empresa, mas, na realidade, eles dão atividades que não correspondem a(s) sua(s) formação(ões).